Ele criou o 1º stand-up umbandista do mundo. E recebeu apoio de seu pai de santo para isso

  • Por Jovem Pan
  • 22/02/2018 14h02
Johnny Drum/Jovem Pan Humorista divulgou o espetáculo "Humor de Santo", que será apresentado em SP

Paulo Mansur não é novo no ramo. Alemão criado em Brasília, já acumula quase 20 anos de carreira no teatro, sendo 10 deles dedicados à comédia. O que é novo aqui é o tipo de espetáculo que foi criado por ele: o primeiro stand-up comedy umbandista do mundo. “Mas o que é que tem de novidade em fazer piada sobre religião?”, você pode estar se perguntando. E a resposta é simples. A tentativa de, em vez de ridicularizar o culto e ofender seus adeptos, tornar cômica a maneira distorcida com que algumas pessoas lidam com dogmas e crenças.

“Sou um cara que ama comédia e ama a umbanda. Acho muito bonito fazer uma coisa engraçada com respeito. Eu me divirto com o humano, não com o sagrado, o orixá ou a entidade. Me divirto com as pessoas que deturpam tudo o que é bacana”, explicou em entrevista ao Pânico na Rádio nesta quinta-feira (22). “É muito comum chegarem no espetáculo falando que tinham ido ali para me bater. No final entendem que não é nada ofensivo. Uma vez, uma mãe de santo ligou me xingando. Depois ela mandou 50 filhos para me ver. E eles adoraram! Antes de começar a peça, por sinal, pedi licença ao meu pai de santo. Ele disse que tudo bem, que era meu trabalho, só pediu para eu não botar o terreiro no meio”.

Nos dias 3 e 4 de março, ele apresentará   Humor de Santo no Teatro Brigadeiro, região central de São Paulo. As exibições serão às 21h no sábado e às 19h no domingo. De acordo com o humorista, o programa agrada a todos, desde ateus que não conhecem muito a umbanda até os praticantes mais assíduos. “Acho que uns 70% do texto todo mundo entende. Outros 30% tem alguns termos que só quem frequenta conhece”.

Mas a história de Paulo com a umbanda não foi sempre tão próxima assim. Durante a conversa na bancada, ele contou que nasceu em família católica, fez catecismo, crisma e até os 16 anos pensava em se tornar padre. Até que se “desiludiu” em determinado momento e percebeu que não tinha vocação para aquilo. Certo dia, visitou um terreiro por curiosidade. Aí tudo mudou.

“Fiquei desesperado de medo. Os caras estão conversando com você e do nada começam a gritar (risos) por que incorporaram uma entidade. Agora falando sério, quando um cara que nunca te viu na vida te revira do avesso ao falar coisas específicas sobre você, é porque alguma coisa tem. E é uma religião que aceita todo mundo. Ela fez sentido para mim. Entendi o plano espiritual, a reencarnação, as outras vidas”, relatou.

O comediante afirmou ainda que, embora o discurso de ódio esteja bastante presente na sociedade brasileira, nunca sofreu nenhum tipo de demonstração grave de preconceito – apenas recebeu “caras feias” ao declarar suas crenças. Mesmo assim, considera importante usar o teatro, mais especificamente a comédia, para incentivar o respeito e o pensamento crítico. “Quando você ri é porque se identifica. Isso gera uma transformação. Precisamos de mais diversão e mais tolerância. As pessoas são intolerantes porque não riem”, finalizou.

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